A trilha sonora do filme Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, é um elemento fundamental para a narrativa, contribuindo para a imersão do espectador na atmosfera da década de 1970, período marcado pela ditadura militar no Brasil. A seleção musical foi cuidadosamente elaborada por Warren Ellis, músico australiano conhecido por suas colaborações com Nick Cave e por trilhas de filmes como Django e Blonde.
Contexto Histórico e Musical
O filme, que retrata os anos mais intensos da ditadura, utiliza a música como ferramenta para expressar resistência, criatividade e a luta por liberdade. A trilha sonora de Ainda Estou Aqui é composta por canções da MPB e do movimento Tropicália, escolhidas para dialogar diretamente com as cenas e os diálogos dos personagens. Músicas como É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo, de Erasmo Carlos, e Jimmy, Renda-Se, de Tom Zé, são exemplos de como as letras e os ritmos da época refletem a inquietação e a busca por novas formas de expressão.
Artistas e Canções
A trilha sonora de Ainda Estou Aqui reúne nomes icônicos como Tim Maia, Gal Costa, Caetano Veloso e Os Mutantes, além de incluir canções internacionais como Je t’aime moi non plus, de Serge Gainsbourg e Jane Birkin, que foi censurada no Brasil durante a década de 1970 por seu conteúdo sensual. Cada música foi selecionada para representar momentos específicos da trama, desde a alegria familiar até a escuridão da repressão política.
Processo de Seleção da Trilha Sonora de Ainda Estou Aqui
A escolha das músicas foi um trabalho colaborativo entre o diretor Walter Salles, os roteiristas Heitor Lorega e Murilo Hauser, e o editor Affonso Gonçalves. Algumas canções, como Jimmy, Renda-Se e Je t’aime moi non plus, já estavam previstas no roteiro antes mesmo do início das filmagens. Outras, como É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo, foram incluídas por sua relevância histórica e emocional, reforçando a mensagem de resistência presente no filme.
Impacto e Relevância
A trilha sonora de Ainda Estou Aqui não apenas ambienta o filme, mas também funciona como um personagem adicional, ajudando a contar a história e a transmitir as emoções dos personagens. A música é usada de forma estratégica para ressaltar temas como a luta pela liberdade, a censura e a criatividade que emergiu em meio à repressão.
Em resumo, a trilha sonora de Ainda Estou Aqui é uma obra-prima que combina nostalgia, crítica social e arte, tornando-se parte essencial da experiência cinematográfica.
Em sua busca, os responsáveis pela trilha sonora de Ainda Estou Aqui buscaram, acima de tudo, contextualizar o período em que a trama se passa e os acontecimentos culturais, mais especificamente musicais da época.
Músicas da Trilha Sonora de Ainda Estou Aqui
- “A Festa do Santo Reis” – Tim Maia: Uma música que reflete a cultura popular brasileira e o espírito de resistência.
- “Jimmy, Renda-Se” – Tom Zé: Uma canção que traz elementos de crítica social e humor, características marcantes de Tom Zé.
- “É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo” – Erasmo Carlos: Canção de destaque do filme, essa música, composta com Roberto Carlos, foi lançada em 1971 e reflete o clima de incerteza e inconformismo da época.
- “Acauã” – Gal Costa: Composta por Zé Dantas, Acauã é uma canção que combina elementos da música tradicional brasileira com a inovação tropicalista.
- “Je T’aime Moi Non Plus” – Serge Gainsbourg & Jane Birkin: Composição francesa com elementos de sensualidade, essa música icônica traz um toque internacional à trilha, refletindo a diversidade cultural da época.
- “Alexander” – Philip May, Alan Walker, Richard Taylor Clifford, John Povey: Uma peça instrumental que adiciona um elemento contemporâneo à trilha.
- “Take Me Back to Piauí” – Juca Chaves: Uma música que evoca nostalgia e pertencimento, temas centrais no filme.
- “Baby” – Os Mutantes: Uma canção que representa a contracultura e a experimentação musical dos anos 1970. Nela se verifica a mistura homogênea do Rock com o Tropicalismo.
- “Agoniza, Mas Não Morre” – Nelson Sargento: Uma música que fala sobre persistência e resistência, temas que ecoam a luta de Eunice Paiva. Nela, o sambista lembra que o samba também chegou a ser perseguido e proibido por autoridades em outros períodos.
- “As Curvas da Estrada de Santos” – Roberto Carlos: Uma canção romântica composta por Roberto e Erasmo Carlos. Nela se percebe o sentimento de perda que também é comum à personagem de Eunice.
- “Como Dois e Dois” – Roberto Carlos: Nesta composição de Caetano Veloso, percebe-se uma vontade de se falar, ainda que por metáfora, de que, o que acontecia na época não estava correto.
- ‘The Ghetto” – Donny Hathaway: Uma música soul que adiciona uma dimensão emocional profunda à trilha. Donny também empresta sua voz à icônica música The Closer, na qual divide interpretação com Roberta Flack
- “The Fight” – Johann Johannsson: Uma peça instrumental que reforça a tensão e o drama da trama.
- “Fora da Ordem” – Caetano Veloso: Uma canção que critica o contexto de falta de liberdade e a repressão da época, temas centrais no filme.
- “Petit Pays” – Cesária Évora: Uma música que traz um toque de melancolia e beleza, refletindo a complexidade emocional do filme.
- “Um Índio” – Caetano Veloso: Uma canção que aborda temas de identidade e a resistência da cultura indígena, assim como a valorização da natureza.
- “Falsa Baiana” – Gal Costa: Uma música que combina elementos tradicionais e modernos, reforçando a identidade cultural e heterogênica do país.
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